terça-feira, 4 de setembro de 2012

Let's continue

No InCor


Ao verificarem que o derrame pericárdico havia se refeito, encaminharam-na ao Instituto do Coração pois o cirurgião cardíaco do Emílio Ribas estava de férias.

Após uma longa espera no Pronto Socorro do InCor, fomos para uma nova cirurgia para drenagem do líquido. Digo fomos pois apesar de apenas ela estar na mesa de cirurgia, toda a família sobre junto. Costumo dizer que quando uma parte do corpo está doente, o corpo todo padece da mesma dor. Assim é a família.

Nesta cirurgia seria feito uma espécie de "janela" ligando o pericárdio com a pleura, para que se houvesse a reconstituição do líquido, o mesmo se escoaria para o pulmão onde seria mais fácil drená-lo.
Mais tarde soubemos que não foi possível, uma vez que o coração ainda estava cicatrizando da primeira cirurgia.

Após uns 15 dias de internação para recuperação da cirurgia, e depois de inúmeros questionamentos por nossa parte aos médicos, tentando identificar a causa daqueles derrames, pois a nossa preocupação era como seria daqui pra frente. O líquido se refaz e ela é submetida à cirurgia. Por quantas mais? Até quando?

Nossa cabeça fervilhava de dúvidas e a única resposta que tínhamos é que em casos de derrame pericárdico, apenas 1 em 1000 pacientes tem a causa diagnosticada. E assim eram apresentados as inúmeras doenças que podiam levá-la a isso mas que não foram diagnosticadas.

Ao informarem à mãe que ela teria alta, ela relutou pois havia sim se recuperado da cirurgia, mas se sentia ainda mais cansada e abatida do que quando deu entrada nos hospital.

Diante disso, foram feitos novos exames, entre eles uma Tomografia do tórax onde foi possível identificar uma massa não localizada e que após uma biópsia foi confirmado tratar-se de Adenocarcinoma de pulmão.

Posso dizer que já estava preparada. Nesse meio tempo em que a doença era investigada, a Drª responsável pela minha mãe, havia conversado comigo e com o Samuel. O líquido retirado na cirurgia de drenagem havia sido encaminhado ao laboratório das Clínicas para estudo, e após uma biópsia foi constatado que nele havia células cancerígenas e nas palavras da Drª Ismênia, "é muito provável que se tenha o problema e ele não apareça, do que ter a células e não ter o problema". Segundo ela, só restava descobrir onde estava o tumor.


Naquele momento pude ver que o Samuel não quis acreditar. Ele sugeriu que um amigo seu, também médico, reavaliasse.

Esse dia foi um dos piores momento para mim.
Tentei encarar a situação como sempre faço, esperando pelo pior para que o melhor me surpreenda. Mas sabia que não ia dar certo. Tudo indicava que isso era a única coisa que faltava ser descartada. Ir para casa? Não. Não queria ficar sozinha e nem perto de pessoas próximas. Queria sofrer sozinha. Ou mesmo em volta de muitos mas sozinha por dentro. Já bastava eu ter que disfarçar para a mãe que ainda não tinha o diagnóstico.

Voltei para o serviço. Falei pouco com poucos. Essa dor era só minha.
Para completar, parece que quando mais precisamos, tudo conspira para o desentendimento. Aquela não foi uma noite nada fácil.

No momento em que foi comprovado a existência do problema e que a  Drª nos chamou para conversar, meu esposo estava comigo para me apoiar no que fosse preciso. Porém, diante do diagnóstico, quem precisou ser amparado foi o meu irmão. Seu corpo respondeu ao emocional, literalmente falando, arriou.

Naquele momento, eu que sempre fui tida como a manteiga derretida da casa,assumi uma personalidade que eu nem sabia ter. Fiquei a frente da situação. A médica colocou-me a par da situação, apresentou-me o problema. Por mais que eu não entendesse aquelas imagens, foi muito importante para mim vê-las.

O momento mais chocantes nesse dia foi escutar que minha mãe, com apenas 42 anos de vida, posso dizer que saudáveis, tinha agora 4 meses apenas, pois o tumor já estava em estágio avançado.

Surgiram novamente milhões de perguntas. Por quê? Essa foi a que mais usei. Por quê conosco? Por quê de novo (explico mais pra frente)? Porquê ela? Por quê ela passou quase 3 meses no Emílio Ribas com exames quase diários e não foi diagnosticado antes? Por quê esse tipo se ela não se encaixa no perfil de possíveis pacientes (explico mais pra frente)? E as perguntas se seguiram...




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